PET JUR indica: "Ainda Estou Aqui" chega ao Globoplay


Imagem: Divulgação/Globoplay

Sinopse: Rio de Janeiro, 1971. Eunice Paiva é forçada a se reinventar quando sua família sofre um ato violento do Estado brasileiro.
Gênero: Biografia, Drama
Direção: Walter Salles

Em cartaz por 5 meses, o vencedor do Oscar de melhor filme internacional "Ainda Estou Aqui" (2024) foi disponibilizado na plataforma da Globoplay no domingo passado (06/04). Dirigido por Walter Salles, diretor de filmes também bem conhecidos como "Central do Brasil" (1998), e inspirado na autobiografia homônima de Marcelo Rubens Paiva, “Ainda Estou Aqui” conta a história da família Paiva, cujo patriarca, o deputado cassado pelo AI-1 Rubens Paiva, é levado pelas forças armadas em 1971 sob pretexto de prestar depoimentos. Neste ano, foi assassinado no quartel militar. Eunice Paiva, sua esposa, interpretada por Fernanda Torres, representará então a força de manter viva a sua memória e carregar a dor do desaparecimento. 

Este “PET-JUR indica” não se justifica puramente pela premiação vencida, devemos também nos questionar como valor dado a produtos nacionais é pautado pela recepção internacional. Indicamos o filme por estar ele inserido em um momento histórico de revisão institucional dos crimes cometidos durante os anos da ditadura militar e de disputa sobre a responsabilização de agentes golpistas. "Ainda Estou Aqui" funciona tanto como motor destes processos em âmbito nacional, quanto como produto, em um movimento simbiótico. 

Exemplo disto é a menção do ministro Flávio Dino à "Ainda Estou Aqui" em voto a favor da tese de que a ocultação de cadáveres cometida pelo Estado seria um crime permanente e ultrapassaria o limite temporal da Lei da Anistia. Sobre isso, escreve ele sobre a história de Rubens Paiva: “cujo [de Rubens] corpo jamais foi encontrado e sepultado, sublinha a dor imprescritível de milhares de pais, mães, irmãos, filhos, sobrinhos, netos, que nunca tiveram atendidos os seus direitos quanto aos familiares desaparecidos”.¹

Enfrentamos uma agonia no país, identificada por Paulo Emílio Sales Gomes (1916-1977), crítico e fundador da Cinemateca Brasileira: “O Brasil se interessa pouco pelo próprio passado. Essa atitude saudável exprime a vontade de escapar a uma maldição de atraso e miséria”². Neste momento em que corre no Supremo Tribunal Federal, além do mais, a denúncia e a responsabilização de generais e políticos que tramavam golpe contra a eleição democrática de 2022, é mais que necessário olhar para o nosso passado e as imagens do Cinema contribuem nisso: a reconstituição da memória de um desaparecido, e de uma história que se oculta . 

Carolina Cavalcanti [Bolsista PET JUR Direito PUC Rio]

REFERÊNCIAS 
² Paulo Emílio Sales Gomes. Pequeno cinema antigo / Paulo Emílio - São Paulo: Paz e Terra, 1996.